20.4.07

Tecto Falso

O meu tecto é mais recto
do que o tecto do meu projecto.
Porém é mais baixo.

Calca-me esta cal branca
de uma pureza que espanca
a minha solidão.
Ou será preguiça?

Tranquei o meu olhar discreto
e contei os palmos do tecto
deitado na minha cama.
Ninguém me fala,
Ninguém me ama.
Mas talvez se lhes abrisse a porta...
Que importa?

É esta a minha morte escolhida,
bela, serena, fugaz.
É esta a minha mágoa mesquinha.
Eu trago-a sempre acesa no peito.

Quando quero, acordo em ângulo recto
e o teu rosto evapora-se no tecto
desfeito.

5 Comentários:

Às 22 de abril de 2007 às 22:38 , Anonymous Anónimo disse...

Início auspicioso...

 
Às 23 de abril de 2007 às 17:22 , Blogger C disse...

porra. perfeito.

 
Às 25 de abril de 2007 às 11:40 , Blogger Sousa Ribeiro disse...

Casto, duma inocência que em nada se coadunará com a experiência do seu autor, em síntese, um belo, simples e pacato poema,cuja simplicidade é a sua maior glória. Conquanto tal pureza de conteúdo, encontro no seu fim "...Quando quero,acordo em ângulo recto...", o que será isto? O chamado tesão de mijo? Ou o tesão do sonho erótico do rosto desenhado no tecto?A ser a primeira hipótese, manter-se-á a inocência do poema, porém desvanecer-se-á a elegância deste. Caso seja o segundo cenário, acima conjecturado, enfim, morreu o poeta no facilitismo sexual...Solicito esclarecimento ao poeta,o qual desde já agradeço. Inté.

 
Às 25 de abril de 2007 às 12:15 , Blogger Amândio Sereno disse...

Certo que o que vou acabar de fazer não se irá repetir muitas vezes, uma vez que a poesia é em grande parte criada por quem a lê e qualquer explicação só diminui e limita o seu conteúdo, aqui fica a explicação:
Em todo o poema subjaz uma ideia de preguiça como causa para a solidão do sujeito, um pouco refugiado num amor platónico, o que cria uma certa ironia no lamento latente (ou patente, como queiras)no poema.
Ora, sendo este o caso, o sujeito pode abandonar essa situação sempre que quiser, sendo que o acordar em ângulo recto significa, não um simples acordar, mas sim uma tomada de consciência da sua condição e, consequentemente, a recuperação da sua dignidade e amor próprio, que o tornam capaz de enfrentar de cabeça erguida e sem medo(ângulo recto) o mundo que tanto o assusta e do qual se refugia.

Peço desculpa aos restantes leitores.

Espero ter sido suficientemente claro, Russel.

 
Às 2 de maio de 2007 às 17:00 , Blogger C disse...

oh russel, nao tens um blog teu? agora essa mania de cagar nos outros blogs acaba, tens um penico teu

 

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