25.4.07

Vodka

Vou para casa, amigo.
Já é tarde.
Foi bom crescer contigo,
dizer palavras tristes e pesadas,
ver como, cobarde,
o tempo arde
nas nossas vodkas revoltadas.

A chuva molha os magros ombros
da cidade que se ilumina aos poucos.
Só, o velho que alimenta os pombos
inveja os que vão para suas casas
correndo, rápidos e loucos,
como se, também eles, como os pombos,
tivessem asas.

A noite vai ser cruel e gelada,
tal como as noites lentas de quem chora.
Naquela esquina, entre o fumo de carro e castanha assada,
há um jornal esquecido pelo ardina,
há um filho querido que vai embora,
há um amor infinito que termina.

A mulher que eu amo, frágil, insegura,
talvez também se escape por estas avenidas...
Quem sabe até se não me procura
em cada rua, em cada olhar que passa indiferente...
O álcool é bom, acalma as feridas,
serena esta angústia de ser gente.

Mas a vodka não me leva desta cidade,
apenas esconde a mente do perigo
e distrai o olhar da nua realidade,
enquanto o peito, em chama, arde.
Por isso, até amanhã, amigo.
Vou para casa.
Já é tarde.

3 Comentários:

Às 26 de abril de 2007 às 12:24 , Blogger C disse...

vodka não digo, mas aquele bagaço nas terras do sul, escondido numa inocente garrafa de Fastio

 
Às 27 de abril de 2007 às 15:11 , Blogger filipelamas disse...

Excelente hino à Amizade e ao companheirismo! Bem-vindo!

 
Às 6 de maio de 2007 às 11:54 , Anonymous Anónimo disse...

Confirma-se. Não é um "One Hit Wonder".

 

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