4.5.07

Entardecer

Cobre-me com um lençol branco
que eu quero morrer de amor.

Quero voltar ao teu quente, mãe,
quero tornar a ser flor,
frágil para ser feliz
e em cada pétala derramar uma lágrima
só porque hoje não sonhei.

Perdoa-me se os meus olhos
não sabem beijar o mundo como tu mo deste.

Perdoa a minha voz estranha, rouca e agreste.

Perdoa-me se eu já não choro com medo do escuro,
mas é tudo tão confuso,
há tanta luz, tanta gente,
e o ar é tão diferente e frio.

Não há tempo para o medo.

Eu não sei partilhar a tua vida, mãe,
a vida que partilhaste comigo.
Não sei partilhar a tua ferida
que me ficou para sempre beijada no umbigo.

Por cada passo que dei
teus lábios sussurraram um sorriso.
Cada palavra que não pensei
foi dita com a inocente inexactidão
que tu sempre acariciaste.

Mas agora as palavras fazem eco dentro de mim.
E eles querem sempre que eu diga "sim".

Não, mãe.
Não aguento mais mentir liberdade.
Não suporto mais dizer a verdade
de um homem inteligente.

Eu hoje quero morrer de amor.
Nu, sozinho e completo.
Por favor, mãe,
deixa-me voltar ao teu ventre.

1 Comentários:

Às 9 de maio de 2007 às 14:31 , Blogger ml disse...

muito obrigada pelas palavras:)

 

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