31.5.07

Barro

"Não tenho culpa de nada!
Tivesses a mão fechada
ou aberta de outra maneira..."
Miguel Torga


Não posso ser mais do que isto:
a chaga aberta de um Cristo
que pecou;
o náufrago perdido
na ilha deserta
do mar que o afundou.

Não posso ser o que quero,
nem mesmo quando quero
ser aquilo que sou.
Do princípio ao fim
negarei esse sim,
fugindo de Ti e de mim
sem saber para onde vou.

Não posso caminhar sozinho
e é sozinho que ando,
julgando pelo caminho
que vou para onde mando,
onde não chega a Tua mão,
onde não se ouve o Teu não
e onde intimamente espero
o Teu eterno perdão.

Não posso ser mais do que fraco,
ser um pedaço de caco
do molde que se partiu.
Não posso ser mais do que ingrato
para o ventre que me pariu.

Mas sei que sou homem,
não um rato,
para saber aquilo que sou:
o filho desnaturado,
o barro mal acabado
que a Tua mão moldou.

1 Comentários:

Às 1 de junho de 2007 às 14:29 , Blogger C disse...

quatro letras: I.U.R.D.

 

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