21.4.08

Balada da Florbela (atropelamento e fuga)

Florbela, bela flor
que desabrochava poesia,
na flor dos seus quinze anos,
tão pouco da vida sabia
como dos seus desenganos.
Inocente, deslumbrada,
a bela moçoila escrevia,
em rima interpolada
e redondilha menor,
uns versinhos inseguros
que choravam por amor.
Os olhos verdes, tão puros
como duas bolas de sabão,
flutuavam pela vida
ao sopro do seu coração,
e Florbela, iludida
pela eloquência da paixão,
escrevia tudo o que sentia
em busca de libertação.

Tinha nome de poetisa,
devia sofrer calada,
chorar lágrimas de tinta -
a adolescente pensava.
E mesmo não sendo amada
(que mais uma mulher precisa?)
o que a vida lhe não dava
a poesia que nos minta.
Florbela escrevia,
escrevia e não chorava.
Florbela sorria,
chorava mas ninguém via.

Um dia, ao voltar para casa
pela mesma velha estrada,
com a sua tristeza de asa
de andorinha apedrejada,
pensando verter no diário
mais uma paixão dezasada -
oh infortúnio rodoviário -
a moça foi atropelada.
Florbela, espancada
pela frente de um camião,
ficou estendida na estrada
com os seus versos na mão.

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