2.6.08

A um tolo numa varanda

Entre vasos de flores regadas,
trejeiteando o torto lábio,
casaco de lã, calças mijadas,
virtuoso, puro, sábio,
o tolo berra, sobre as arcadas,
contra quem passa,
inferiormente.

Com uma raiva quase inocente,
vocifera e ameaça
e contesta e diz que mata
a passante populaça:
um cão magro, de perna alçada,
dois bancários de gravata,
a vizinha divorciada,
o casal de adolescentes,
o carteiro persistente,
a cozinheira apressada,
o professor circunspecto,
a míope escriturária,
o dono da funerária,
o chinês da loja ao lado,
um jovem desempregado,
o merceeiro avarento,
a varina pregadora,
o brasileiro ilegal,
os hóspedes da residencial,
o honesto advogado,
a matilha de estudantes,
a menina do quiosque,
o Vison da quarentona,
o cigano dos relógios,
a parelha de prostitutas
e de quando em vez um polícia.

Por trás das ferozes grades
do seu púlpito secular,
lança bênçãos furiosas
sobre as cabeças de quem.
Por vezes diz que se "amanda"
numa tensão suicida.
Mas logo aparece a mãe
que trata de o acalmar,
pensando com as suas rosas:
"Antes tolo na varanda
do que esborrachado na vida."

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