19.11.07

Espelho

"Eu to juro, menina, tenho visto
coisas terríveis - mas jamais vi coisa
mais feroz do que um riso de criança."

Antero de Quental


Queria dizer-te que a vida é enorme
mas os teus olhos não me deixam mentir.
E depois há a filosofia muda das borboletas,
a poesia colorida das suas asas em fase terminal;
há um mundo teimoso que não gira sozinho;
no meu espelho quadrado,
há um sujo menino abandonado
que não pode ir brincar contigo.

E depois há o sofrimento horizontal dos ascetas,
há uma palavra errada em cada página do jornal,
há os bons-dias inúteis do inútil vizinho,
há uma falta de sonhos nas estrelas
que não persigo.

Corre, salta, ri, grita,
suja as tuas brancas mãos
nessa terra preta onde eu dormia.
Se a verdade é liberdade
eu quero agrilhoar-me à fantasia.

E se amanhã te vires chorar,
lembra-te, furiosamente,
de ser criança
para sempre.

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