10.12.07

Média Luz

Sozinho no vão de escada de um sorriso
a roer as unhas
com os dentes amarelos do passado,
a juntar palavras fáceis
na busca inútil da poesia,
a aconchegar-me bem
na sombra densa e penitente
do silêncio áspero que cresce dentro de mim.
Vejo-me subir os degraus,
primeiro a medo, hesitante,
mas ganhando, a pouco e pouco, nos passos
a confiança de uma criança que já aprendeu a mentir.

Olho para cima,
a luz fere-me os olhos.
Olho para baixo,
tenta-me a sombra, a vertigem.
Estendo as duas mãos,
paralelas cumprindo funções distintas
que conhecem de olhos fechados,
mesmo na surpresa do sono.

A mentira pode tornar-se tão banal
como a verdade.
A sombra cada vez mais aconchegante
e o sorriso conveniente, pontual
como as luzes da cidade.
É difícil escrever à média luz.

1 Comentários:

Às 11 de dezembro de 2007 às 11:51 , Blogger Manuel Bruschy Martins disse...

«a confiança de uma criança que já aprendeu a mentir.» Bom verso. Parabéns pelo blog.

 

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