25.12.07

Lamentação de Natal

Amanhã não é mais Natal.
Uma vulgar luz baça penderá em nossos olhos.
As mesmas mãos frias voltarão aos nossos bolsos.
Alguém virá recolher, com zelo profissional, os coloridos enfeites da cidade.
Sob o velho sino plangente enterraremos os nossos mortos.
Uma obstinada fome negra secará as mesmas bocas
e nossos pródigos lábios ciciarão novamente repisadas palavras ocas.

Amanhã não é mais Natal.
Na cinzenta avenida central uns aflitos gemidos de ambulância
substituirão, sem esplendor, o tom celestial de um coro da nossa infância.
Nas montras e nas vitrines, despidos manequins manetas
exibirão, agoniados, suas feridas obsoletas.
E nas nossas mãos chagadas de eternos Cristos penitentes,
carregaremos nossas cruzes em vez de sacos de presentes.

Amanhã não é mais Natal.
As páginas do jornal sujarão os nossos dedos com a sinistra notícia.
Nas gordas letras ler-se-á: "Criança", "Hospital" e "Sevícia".
Ninguém dirá em directo as palavras "Amor", "Esperança", "Alegria".
Um pálido Sol previsível anunciará mais um dia.
Ainda que um homem queira, que uma criança o exija ou que uma mulher o implore,
amanhã não é mais Natal.
O menino nas palhas esquecido não mais terá quem o adore.

1 Comentários:

Às 30 de dezembro de 2007 às 01:11 , Blogger Sousa Ribeiro disse...

O engraçado é q volta a ser Natal, um ano depois. Para chover é preciso ter feito ou fazer sol...

 

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