24.9.08

Tenham paciência

Doem-me os ossos e o ócio.
Tenho febre de nada fazer.
Arde-me os olhos de tanto ver
e de nada querer guardar na memória.

Na cidade faz-se a história (dizem),
trava-se a eterna luta da justiça...
E eu, sentado, a ver o vento passar,
envolto numa manta de preguiça.

Os ombros caídos, as mãos pousadas,
o espírito consumido
por uma incontrolável vontade
de não fazer nada.

Lá fora, ouço cavalos
sobre a chuva,
tilintam espadas,
corre sangue,
estrilam gritos,
corre a chuva,
tilintam gritos,
sangram cavalos,
chovem espadas,
ah...
ardem casas
como eu ardo em febre...

Quando acabarem que me chamem.
Desfraldem uma bandeira,
lancem um URRA de vitória.
Talvez abra uma janela
se me apetecer,
se os meus ossos me deixarem mover
uma mão para acenar aos vencedores.
Também quero guardar uma memória,
um sorriso de criança, que seja.

Mas para isso tenho que descansar os olhos.
Ardem-me de tanto ver.
Toda a gente é a favor da justiça,
mas doem-me tanto os ossos.
Até estes versos me custaram a escrever.
Tenham paciência.
Vou dormir.

9.9.08

O assado

Com que então um poema é um peixe...
Não é, menina Adília?
Diga isto, assim,
à mesa, em família...
É ver raiar nos olhos das avós
a congestão do assado.

Mas dirá o benjamim, por nós:
Então se calhar foi por isso
que Camões não morreu afogado...

Etiquetas: